O que importa ressalvar destas intervenções, das mais antigas às mais recentes, diz respeito à transformação dos lugares públicos em lugares «antropológicos», processo que Marc Augé, antropólogo francês, analisou como sendo um processo que envolve a transformação de «não-lugares» em lugares.
Esta publicação, cuja motivação surge ainda com o pintor em vida, nasce da vontade de mapear e conhecer todas as obras que Júlio Pomar realizou no espaço público. Para cumprir o propósito, foi necessário estabelecer um roteiro de visitas aos lugares onde o artista tinha intervenções públicas – o que em alguns casos levou Júlio Pomar a rever e surpreender-se com obras de que se tinha praticamente esquecido.
A primeira visita – posso aqui revelar – foi ao painel da Avenida Infante Santo, que tinha sido acabado de restaurar pela equipa da Câmara Municipal de Lisboa. Essa visita, acompanhada pela vereadora da Cultura da CML, Catarina Vaz Pinto, e pela equipa de restauro, foi motivo de entusiasmo para todos, incluindo o artista, que observou o painel com grande espanto e admiração. Esse momento encetou o périplo pelo roteiro traçado, o qual foi crescendo à medida que Júlio Pomar ia sendo convidado para fazer novas intervenções.
Das obras que realizou em espaços públicos, ou em lugares visitáveis pelo público, já com o Atelier-Museu em funcionamento, contam-se: o painel cerâmico do Museu da Cerveja (2013); o átrio do Teatro Nacional D. Maria II (com Henrique Cayatte) (2014); o painel cerâmico da Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau (2015); o retrato de Champalimaud, na Fundação Champalimaud (2016); o painel cerâmico Participação na Assembleia Municipal de Lisboa (2017) e uma instalação na entrada do edifício da Fidelidade – Chiado 8, todas em Lisboa.
A curiosidade que «mordia» o pintor e a equipa do Atelier-Museu levou-nos aos lugares onde havia intervenções públicas suas, para descobrir o estado das obras, e mesmo a sua existência, de que em alguns casos se duvidava já, como era o caso da intervenção escultórica dos anos 1950 na fachada principal do antigo Mercado da Pontinha, e dos doze vitrais da Igreja da Sagrada Família, de 1954, na mesma localidade.
[Sara Antónia Matos]
Com o Atelier-Museu Júlio Pomar.
Edição bilingue: português-inglês.