A obra de Sofia […] é um retrato da sua vida, um retrato das suas ideias, necessidades e desejos, a necessidade de se exprimir e de ser livre sem mais restrições que as suas capacidades físicas e os limites da sua imaginação.
[Martim Brion]
Como a maior parte das exposições na Fundação Carmona e Costa, esta é uma exposição de câmara, i.e., onde o formato conta e o suporte é o papel, onde o desenho está presente, muito embora sem ser dominante, e, no caso de Sofia Areal, onde a exuberância de cor é dominante, indispensável quase sempre. Dizer câmara não é limitar, é ajudar a definir a regra do jogo que se joga neste conjunto de obras que, embora descendo no tempo até aos anos 90 do século XX, não se institui como história ou retrospectiva, mas como uma espécie de mapa poético, ou como um passeio através de formas e temas que constroem uma paisagem e essa paisagem é: a pintura e o desenho de Sofia Areal.
A formas dominantes estão todas lá e associam-se a temas que a artista elege em séries e nomeia com o seu peculiar gosto de inventar nomes e títulos que têm sempre «algo que se lhe diga», é a artista quem o afirma.
[…]
Depressa e bem…
… há pouco quem! É o povo que o diz num provérbio contra o qual Sofia se insurge, porque a velocidade e a urgência são o seu forte, muito embora em certos casos possa andar alguns anos em torno de um desenho- colagem sem saber o que lhe fazer, esperando o instante em que subitamente resolva o problema depressa, depressa sempre. Esta urgência é parte integrante do seu fazer, de um trabalho que é, sempre, um divertimento, um prazer ou uma fonte de alegria, rápida e amável no sentido em que está sempre buscando um afecto positivo. Esta rapidez assemelha-se ao improviso e sobretudo ao desaprender. Sofia Areal frequentou escolas, porém a sua prática artística faz-se no abandono delas, na capacidade de emigrar para uma escrita antes da escrita, um desenho antes do desenho e uma pintura a fazer-se ali diante dos nossos olhos, sempre viva porque sempre incompleta, caminho sem fim, jogo, brincadeira, grito, riso, divertimento.
[José Luís Porfírio]
Com a Fundação Carmona e Costa.
Edição bilingue: português-inglês.