Considera-se que as duas [entrevistas], realizadas em tempos diferentes, com registos e teores dissemelhantes, constituem em conjunto fontes basilares — quase cartilhas — para o estudo e compreensão da obra deste artista, bem como dos seus processos de trabalho.
A entrevista Júlio Pomar: O artista fala… Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro cuja reimpressão integra agora a colecção Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar, foi na verdade não a sexta, mas a primeira entrevista da colecção a ser realizada. A sua publicação e lançamento ao público, em 2014, num formato diferente deste, deu a compreender um período de trabalho desenvolvido com o artista para a abertura do próprio museu, anunciando alguns dos seus pressupostos de trabalho e da sua linha programática, inclusive. […] A entrevista de Júlio Pomar, que ocorreu no ano e meio que precedeu a abertura do museu, procurou transmitir as preocupações inerentes ao seu trabalho mas também as expectativas que tinha com a abertura e implantação do Atelier-Museu. Hoje, volvidos mais de sete anos de existência do espaço museológico e mais de dois anos da morte do pintor, devido à recorrência com que se volta às suas palavras e se citam partes da entrevista então feita, o Atelier-Museu decidiu reimprimir esta conversa seminal, juntando-lhe outra de grande extensão e abrangência feita por Helena Vaz da Silva.
[…]
Particularmente para mim, enquanto directora do Atelier-Museu, devo dizer que reeditar estas duas entrevistas, ler e rever palavra a palavra do artista, como que deglutindo-as devagar, incorporando- as, foi um projecto especialmente sensível porque trouxe o pintor — e o amigo! —, falecido em Maio de 2018, outra vez para mais perto, um pouco para mais perto, como se por momentos tivesse sido transportada para cada uma das sessões de convívio proporcionadas pelas gravações da entrevista. Esse recuar no tempo fez-me quase ouvi-lo de novo, como se a sua gargalhada livre ecoasse por detrás do meu ouvido, se isso é possível.
Espera-se que a reedição destas duas «cartilhas», destas duas conversas extensas, traga também essa possibilidade ao leitor, que reconhecerá nas palavras aqui transcritas a natureza e o tom inigualáveis, astutos e absolutamente singulares, da voz e do pensamento de Júlio Pomar.
[Sara Antónia Matos]
Com o Atelier Museu Júlio Pomar.