Que a natureza seja um poder circular que ciclicamente retorna a si mesma poderia ser uma constatação a partir da qual todo o trabalho de Nuno da Luz tem começado. Emerson refere-se ao scholar, mas as suas palavras podem facilmente transferir-se para aquela que é a dinâmica das pesquisas artísticas.
A maneira como nos tem feito escutar o vento, a energia produzida pelo deslocamento das massas aquáticas nas ondas, a superfície e a profundidade, transportam-nos de um modo poético para uma ideia de paisagem sonora que se constitui como uma dobra: por um lado, detém toda a dimensão da paisagem na sua dimensão contemplativa, subjectiva e experiencial; por outro, torna evidente o modo como o descontrolo sonoro contemporâneo é um elemento de destruição, desequilíbrio e devastação de imensas formas de vida. Este livro vive nessa duplicidade: é um dispositivo poético de contemplação e imersão na paisagem, na vida e no mundo através, fundamentalmente, de experiências sonoras, e é um instrumento ecológico destinado à nossa sobrevivência.
[Nuno Crespo]
Nos trabalhos de Nuno da Luz, os meios do vento e da água são transduzidos em diversas formas tecnológicas de registar o ambiente. Cartografias políticas e climáticas entram no espaço expositivo oferecendo novos entendimentos dos meios ambientais. O espaço para a interpretação de dados e fruição estética opera a partir de um interstício mínimo entre o evento, a sonorização e a reposição, onde a turbulência inesperada e a qualidade repetitiva das condições climatéricas em mutação permitem que o ato de deteção tecnológica ocorra; um registo do comum que é poeticamente traduzido a partir da sua instanciação inefável.
[Margarida Mendes]
Com a Universidade Católica, Escola das Artes, CITAR.
Edição bilingue: português-inglês.