… escreveria um aforismo para cada dia do ano — obteria assim um calendário. […] um calendário sem marcação de ano, reunindo o fim e o princípio, permitindo um eterno retorno.
01.01
NÃO É NECESSÁRIO SOBREPORES VIDA E ARTE
— A ARTE E A VIDA DISSO SE ENCARREGARÃO.
Em Maio de 2018 escrevi, para uma vasta exposição comissariada por Pedro Cabrita Reis na Associação 289, em Faro, oitenta textos onde utilizei de forma sistemática a fórmula do aforismo. Uma solução que sempre me interessou (de alguns dos Antigos a Pascal, Nietzsche, de Kraus a Wilde, Cioran ou Almada) e que, muitas vezes, se intromete em alguns dos meus escritos. A capacidade de síntese que comportam, o modo como possibilitam o uso de oximoros ou como neles se pode sugerir uma voz profética teve como pretexto temático a Arte, procurando nela caminhos para pensar na Vida, na Política, no Amor, no Sexo, na Morte… […]
A dupla necessidade de criar uma meta e de me impor um limite, dando assim sentido ao processo de trabalho que se iria seguir, levou-me a estabelecer que escreveria um aforismo para cada dia do ano — obteria assim um calendário. E foi seguindo as experiências dos dias, colhendo as suas alegrias e desgostos, reflectindo sobre o mundo que corria junto a mim, que os escrevi. Mas, reforçando a ideia de que uma sentença não deve ser gasta pela usura do tempo, pensei imediatamente em aplicá-los aos dias de um calendário sem marcação de ano, reunindo o fim e o princípio, permitindo um eterno retorno — em criar um calendário perpétuo.
[…] Cabrita colocou um desenho seu ao lado de cada um desses aforismos, um desenho feito no mesmo espírito de síntese e de velocidade, de abstracção e de súbitas chamadas ao real.
[João Pinharanda]
OS 366 DESENHOS QUE CONSTITUEM ESTA SUITE CALENDÁRIO PERPÉTUO FORAM POR MIM REALIZADOS COM O ESPECÍFICO PROPÓSITO DE ACOMPANHAR OS TEXTOS DE JOÃO PINHARANDA AGRUPADOS SOB UMA DESIGNAÇÃO SIMILAR, E QUE AQUI TAMBÉM SE PUBLICAM.
[CABRITA]
Com a Fundação Carmona e Costa.
ESGOTADO