Jorge Vaz de Carvalho: «Fomos expulsos da nossa inocência: as imagens e as palavras que usamos, afinal, não dão um acesso directo ao mundo, não mostram de forma exacta, franca, sincera, confiável, não são inócuas, óbvias, limpas, puras.»
A exposição «Os Olhos Escutam», comissariada por Paulo Pires do Vale, docente das Faculdades de Teologia e de Ciências Humanas, foi a primeira exposição do novo espaço de exposições temporárias da Universidade Católica Portuguesa, no campus de Lisboa da UCP e decorreu entre 1 de Fevereiro e 30 de Abril de 2019.
Somos feitos de palavras. Com elas damos sentido aos dias, nomeamos e significamos o mundo, narramos o nosso passado, projetamos e antecipamos futuros, tentamos controlar o tempo, abrimos fendas na realidade. Nascer é ser lançado num emaranhado de palavras, numa teia de muitas histórias: as que os pais contam ao adormecer, os mitos fundadores da cultura a que pertencemos, os livros que lemos, os filmes que nos marcaram, as canções que nos acompanham… E essas palavras que nos antecedem, sustentam e constroem são ambíguas, pobres, frágeis. À nossa imagem — ou nós à imagem delas. Capazes de dar a vida ou a morte. De religar ou cindir. De serem ruído ou silêncio — e felizes aqueles que podem dizer, como António Ramos Rosa, «escuto na palavra a festa do silêncio». […]
Se no princípio era o Logos, e essa Palavra se fez carne, então também a carne tem de se fazer palavra. Dizer-se, escrever- se. Mas que relação estabelecemos ainda com a língua numa época de iconocracia? Qual o papel do discurso hoje, quando imperam as imagens? Onde ressoará ainda a palavra?
[Paulo Pires do Vale]
Com a Universidade Católica Portuguesa.
Edição bilingue: português-inglês.