O animismo constitui hoje uma abertura para pensar o humano […] como modo de pensamento estruturante de uma visão sensível do pensamento, e atravessa não apenas a história do cinema e da fotografia como algumas das propostas mais pertinentes nas artes visuais contemporâneas.
Neste conjunto de ensaios, procurei temáticas ou conceitos — caminhos, entre muitos outros possíveis — que me parecem atravessar as ontologias respectivas da fotografia e do cinema, bem como o cruzamento entre ambos. Não tanto no sentido de arrumar os conceitos em colunas paralelas ou relativas a cada meio e que se sobreporiam no final, mas pensando-os como oscilando de um lado para o outro, como ondas verticais, que se chocam e se sobrepõem frequentemente.
Os nove ensaios aqui recolhidos começaram a ser redigidos no contexto do repensamento do meu seminário de mestrado intitulado «Fotografia e Cinema» e têm, portanto, uma estreita relação com a necessidade de levantar questões, mais do que dar respostas. Por outro lado, como se verá, o tema de cada um dos ensaios cruza-se frequentemente com outro ou outros, revelando ligações intersticiais e entrelaços que, se é importante serem pensados per si, também se reconhece o inevitável cruzamento, e mesmo sobreposição, entre eles.
Chamei, pois, a estes textos ensaios porque foram escritos sem preocupação totalitária ou exaustiva, fora de qualquer obsessão analítica ou de esgotar a reflexão sobre estes media e, sobretudo, contra a prática académica dominante nos nossos dias: artigos que se pretendem conclusivos e produtivos, de modo a entrarem numa espécie de corrida de obstáculos durante a qual cada etapa representa um gesto de tranquilização e de certeza sobre as vantagens dessa (suposta) produtividade. João Barrento chamou ao ensaio o «género intranquilo», e é nesse lugar de tentativa e erro, de busca de verdade ou de uma totalidade não totalitária, que gostaria de inscrever este livro.
[Margarida Medeiros]