João Silvério: «imagens, palavras, sons, fragmentos, molduras, palcos, amor, signos, desejo, estórias e história, sexo, cinema, corpos e figuras, dor, música, prazer, planos, geometria, desenho, solidão, pintura, excesso, resgate, euforia, virtuosidade, disciplina, revisitação… Estes epítetos, adjectivos, substantivos ou qualificações podem estar associados ao trabalho de Miguel Telles da Gama (…) enquanto caleidoscópio imaginário de um trânsito de imagens que se foi tornando mais presente e mais voraz no nosso quotidiano.»
Miguel Telles da Gama nasceu em 1965 em Lisboa, cidade onde vive e trabalha. Debaixo da Pele, com curadoria de José Luís Porfírio, é a primeira grande exposição deste pintor e desenhador português, reunindo um conjunto de 61 obras. Tendo-se iniciado nos anos noventa, a obra de Miguel Telles da Gama consiste num conjunto de séries que se vão renovando numa constante procura e inquietação. Muito influenciado pela literatura e pela estética do cinema dos anos cinquenta e sessenta, o artista vai construindo e desconstruindo as suas memórias do quotidiano. As suas pinturas e os seus desenhos, de notável virtuosidade e mestria, têm um carácter narrativo desconexo, propondo um pensamento benjaminiano que nos permite encontrar ligações nos cruzamentos dessas imagens, orientadas para a crítica social, moral e ética, e que nos convoca a formular novos pensamentos.
[Rita Lougares]
É importante conhecer o território a partir do qual se constrói esta antologia, até porque ela é uma escolha e não um resumo; é um trabalho dentro de outro onde o espaço conta mais do que o tempo. Esta exposição é, simultaneamente, o mais recente projecto de Miguel Telles da Gama e um repositório de três décadas em que os projectos contam mais, ou são mais relevantes, do que as exposições, pois são mais extensos, podendo abarcar várias mostras num mesmo projecto. Olhando o percurso deste artista, desde as primeiras exposições em 1990 até hoje, o que ressalta imediatamente é uma pulsão transformadora contínua, sinal de uma insatisfação permanente que não se instala nem se acomoda numa qualquer repetição; cada projecto é também um ciclo que se abre, se prolonga e se fecha, e que, por vezes, deixa adivinhar soluções futuras.
[José Luís Porfírio]
Com o Museu Berardo e o apoio da Fundação Carmona e Costa.
Edição bilingue: português-inglês.