Nuno Faria: «[…] o desenho não é aqui um espaço de representação, mas de revelação; uma forma de conduzir forças interiores que, misteriosamente, nos pertencem e transcendem.»
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «DEGELO — Desenho 1989-2021», de Inez Teixeira, com curadoria de Nuno Faria, realizada na Fundação Carmona e Costa, de 19 de Fevereiro a 21 de Maio de 2022.
A produção em desenho de Inez Teixeira tem permanecido na sombra de um percurso cuja face visível e reconhecível é a pintura. E é, eloquentemente, da sombra que este amplo, diverso e desconcertante conjunto de desenhos desponta para revelar uma particular sensibilidade à emergência da imagem como negativo, decalque, vestígio.
Desenho, desenhar, entendidos em sentido amplo, como campo de imanência e de experiência sensível do mundo. A prática do desenho não tanto como exercício autoral mas como indagação interior, como campo de possibilidades, como ritual meditativo.
O conjunto de desenhos reunidos na exposição «Degelo», realizados durante um extenso período de tempo, inédito na sua quase integralidade, revela um programa de pesquisa livre de constrangimentos formais e um entendimento do desenho como prática processual e experiencial.
Da exposição (e deste livro) constam cerca de uma centena de desenhos, sobretudo organizados em séries, pontuadas por surpreendentes excepções, e um singular conjunto de pequenas esculturas em que a artista integra pedras encontradas no espaço natural.
A pedra, elemento geológico, que remete para um fazer da terra — aquém, portanto, do exercício artístico — é, pois, o elemento transitivo desta experiência em que se constitui não somente a prática do desenho, mas também o conjunto de aflorações presentes nesta exposição.
[Nuno Faria]
Com a Fundação Carmona e Costa.
Edição bilingue: português-inglês.