Litania é também uma experiência tipográfica recente, que desenvolve a ideia de variação própria dos escribas medievais, que recorriam a diferentes figuras de maiúsculas, até na mesma palavra.
Este livro foi lançado por ocasião da exposição Litania na Giefarte em Lisboa, de 27 de Novembro de 2018 a 11 de Janeiro de 2019.
Tornar-se naquilo que se é, o preceito nietzschiano de vida — aquele que impede qualquer pretensão ou exigência de evolução, que evita a ilusão da evolução — é observável na obra de António Sena e conhece uma espécie de esplendor nesta exposição. E a coisa não é pêra doce, pois o preceito de Nietzsche, que vai ter com o título-epígrafe de Montaigne (mais humorístico e com menos ar de preceito), obriga a manter uma luta sem tréguas de cada um consigo próprio. E já se sabe que a tão moderna dilaceração íntima é sinal de falta de saúde. Em arte, como nisto de estarmos vivos, o combate é pela saúde. Só que na arte parece que as feridas reabrem constantemente; em rigor, não há cura (seguindo aqui Louise Bourgeois). No entanto, se o artista não cair na armadilha da evolução fora deste tornar-se naquilo que se é, pelo menos ganha uma força atlética, o que é uma variedade imaginativa de saúde.
Aqui ajusta-se que nem uma luva a dedicatória que Giacometti escreveu no catálogo enviado a André Breton, catorze anos depois de ter sido condenado por maus pensamentos e expulso da capela surrealista sem remissão possível, agora que Breton, et pour cause, se interessava de novo, e muito, por ele: «Lembra-te disto. Eu não vou melhorar.»
[Maria Filomena Molder]
Co-edição com a Giefarte.
Edição bilingue: português-inglês.