A obra de Julião Sarmento não só inclui o desenho, como é toda ela guiada pela prática do desenho.
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Julião Sarmento: Timeline», realizada na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de Delfim Sardo, entre 8 de Abril e 19 de Maio de 2018.
A obra de Julião Sarmento não só inclui o desenho, como é toda ela guiada pela prática do desenho. Não porque o artista tenha cadernos e cadernos de esquissos e projectos como sucede com muitos artistas (não existem, tanto quanto sei), mas porque as suas obras, nos mais diversos suportes que tem vindo a utilizar, do filme à fotografia, à pintura ou à performance, decorrem de um procedimento gráfico contínuo no qual uma plêiade de signos visuais — incluindo texto — recursivamente surge. Na maior parte dos casos, esses signos possuem uma correlação textual, podendo ser descritos com palavras que os descrevem (casas, plantas, animais, facas, corpos), outras vezes, embora mais raramente, são procedimentos gráficos híbridos que não podem ser descritos por palavras únicas (pernas/tesoura, braços/troncos) ou que implicam acções (cortar, perfurar, correr, nadar).
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Como um permanente labirinto circular, ou um loop incessante, a produção em desenho de Julião Sarmento é toda mutuamente contemporânea, não define nenhuma sucessividade senão na necessidade descritiva de quem sobre ela escreve. E, por isso, esta exposição (e este livro) foi construída em sentido anti-horário, como uma linha da vida que se vê sempre a partir de um ponto de vista presente, mas que, vista daqui, não propõe nenhuma nostalgia porque tudo gravita no mesmo presente dos corpos e da sua mistura, no que vem e no que vai, que reaparece na simultaneidade entre útero e tumba que constitui a frágil matéria de uma possível timeline.
[Delfim Sardo]
Com a Fundação Carmona e Costa.
Edição bilingue: português-inglês.