Em Antes Que Adoeça, há como que um jogo de equivalências: a palavra como escultura, os poemas como espaço.
Se utilizarmos a escala da mão, o livro tem as dimensões de uma palma pousada. Concebido com uma tónica na manualidade, aliada à convocação de saberes especializados, nomeadamente quanto à encadernação, gravura e paginação, foi pensado como um trabalho a várias mãos. Por esse motivo também, apresenta-se como um objecto sedutor, impregnado de uma sensação de preciosidade. Para tal contribuem também o cuidado depositado na escolha de cada material empregue, que denota a valorização de cada componente.
Logo na capa, uma insígnia, cunhada por um gesto firme, alerta para o potencial simbólico que iremos encontrar no interior da obra. Este emblema sugere uma derivação de uma flor-de-lis, elemento heráldico, tradicionalmente associado à pureza e à espiritualidade. Neste caso, as três “pétalas” apontam para a mesma direcção. Esta figura congrega três imagens dominantes — flor, chama, ave, como se se tratasse de uma adaptação de um símbolo, um carimbo pessoal. Em qualquer dos casos, esses elementos pertencem ao mundo natural e atravessam livremente todo o livro, em diferentes formulações, ora através do texto, ora do desenho.
O título evidencia uma ameaça latente, ligada à ideia de doença. Perante essa possibilidade, resta antecipar-se: observar antes que adoeça; escrever antes que adoeça; registar, transfigurando; declarar o amor, antes que adoeça. […] Porém, note-se que o livro não se intitula «Antes de adoecer» e sim «Antes que adoeça». Observar, escrever, registar, transfigurar, declarar, para não adoecer. E entendemos aqui que a doença enunciada no título possa não comportar apenas a condição física: criar antes que enlouqueça? A partir daqui, entramos no livro e saímos do chão.
[Luísa Especial]
Este fac-símile é uma edição de 240 exemplares, dos quais 40 contêm uma zincogravura assinada pela artista.
Antes Que Adoeça é um livro original com edição especial de 10 exemplares, numerados de 1/10 e assinados pela autora. Encadernação manual com capa dura e caixa; zincogravura com acabamento chine-collé; papel japonês Shiramine, Awagami. A impressão offset e a zincogravura foram feitas por Mike Goes West, em Coimbra. Foi ainda produzida uma edição especial de gravuras, a partir do livro, por Hugo Amorim na Oficina Meelpress, em Lisboa. A encadernação manual do livro foi feita por Perrine Le Monnier.
Edição bilingue: português-inglês.