«O que Pedro Valdez Cardoso nos propõe é a tomada de consciência dos equívocos da imagem, dos equívocos da linguagem, dos equívocos da História, dos equívocos do tempo e do espaço […].»
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Mão no Fogo», de Pedro Valdez Cardoso, com curadoria de Nuno Sousa Vieira, que teve lugar no Centro de Arte e Imagem – Galeria do IPT, em Tomar, entre 7 de Março e 19 de Maio de 2019.
Mão no fogo apresenta-se, neste contexto, como uma aparente evocação de um esforço na perpetuação desta condição de elevação, que é construída num diálogo entre um corpo estereotipado e uma chama que corrobora e permite ao Homem a ascensão à condição de Deus. Mas, por descuido ou aviso divino, esse corpo é reconduzido à sua condição de humano, quando ao sentir o aumento da temperatura que a chama lhe provoca, ele consciencializa a dor. Tal como sucedeu a Ícaro, quanto maior é a subida, mais violenta se configura a queda. A luva que protegia a mão enegreceu, perdeu o viço e foi vaticinada à solidão eterna.
É este aparente acontecimento mítico que se dilui nas mais insignificantes práticas do quotidiano, que entendo ser uma das questões basilares em toda a prática de Pedro Valdez Cardoso. Na sua obra as grandes epopeias resvalam nos mais singelos acontecimentos. E a chama sagrada, não deixando de o ser, é usada no quotidiano quer para iluminar o espaço, quer para nos aquecer nos tempos de frio, ou ainda para nos proteger dos animais, sejam eles uma águia invertida com uma visão abrangente, ou os pés amarrados da besta, que assim nos permite continuar a manter-nos em segurança
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Em Mão no fogo, tal como acontece em muitas das obras de PVC, a escuridão não é necessariamente o oposto da claridade, do mesmo modo que a alta cultura não se opõe à baixa cultura. A justaposição, seja por alternância ou por fusão, é a palavra de ordem e, por mais rigoroso que seja o cumprimento de um cânone, dificilmente conseguimos referenciar esse facto quando estamos perante o que poderá ser entendido, neste contexto, como o âmago do próprio corpo, ou seja, o seu esqueleto.
[Nuno Sousa Vieira]
Com o apoio da Fundação Carmona e Costa.
Edição bilingue: português-inglês.