«Olha, tenho os autógrafos dos Beatles. Não leste no jornal? Os gajos passaram aqui por Lisboa. Ficaram dois dias e foram fazer um espectáculo ao Monumental.»
Luís Pinheiro de Almeida foi um dos mais destacados colegas da minha turma de 1966, na Faculdade de Direito de Lisboa.
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Com o correr dos anos, afastámo-nos nos nossos percursos. Sobretudo até que a Internet, pelo começo do século, o converteu num dos meus mais assíduos interlocutores semanais, quase diários. Acompanhando tudo e tudo comentando com argúcia e sugerindo com ironia.
Pude, assim, acompanhar a sofisticação da sua Beatlomania. Que havia passado da paixão ingénua do adolescente a chegar à idade adulta para um misto de teórico e compilador sobre a temática, perseguindo dados, descobrindo pistas, alimentando obras sobre o que já não era um passatempo, nem uma nostalgia de outras eras, antes se convertera num dos centros da sua vida.
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Aqui vai, Luís, o meu texto. Prometido há séculos.
Para te agradecer a recordação de há mais de cinquenta anos. E para te dizer como admiro essa tua maneira de não envelheceres. Encontrando nos Beatles uma forma de continuar a sonhar como sonhavas há meio século…
[Marcelo Rebelo de Sousa]
Nasci em 1967, não tendo, por isso, oportunidade de conhecer o Luís Pinheiro de Almeida enquanto jovem. Afinal, talvez a perda não seja tão decisiva quanto eu julgava ser. As cartas não mentem, e revelam, além da sua importância histórica, como o Luís enquanto adulto não é assim tão diferente. Elas são o fiel retrato de quem viveu, e ainda hoje incarna, o genuíno espírito renascentista dos anos 60. Estas cartas são o testemunho de quem estava lá!
[Pedro de Freitas Branco]
Luís Pinheiro de Almeida nasceu e viveu em Coimbra até aos 17 anos. Foi aí que, em 1963, ouviu pela primeira vez os Beatles e partilhou a sua nova paixão com os amigos do Bairro e do Liceu. Em 1965, quando veio viver para Lisboa, descobriu um novo mundo que passou a relatar, quase diariamente, aos seus amigos de Coimbra.
As cartas que escrevia para o amigo Jó (Jorge Carvalho, falecido em 2017), na altura vocalista do grupo Protões, com o registo do que acontecia em Lisboa sobre discos, rádio, cinema, bailes, jornais, concertos, vivências, tudo, ajudaram, segundo Jó, a encurtar a distância entre Coimbra — uma cidade onde não existia informação — e o Mundo.
Agora, é graças a Jó, que guardou essas cartas durante 50 anos, que podemos descobrir como era, nos anos 60, o dia-a-dia de um miúdo de 17 anos… fã dos Beatles, em Lisboa.