Teresa Siza: «É este o papel desta obra de Pedro Lobo, juntar os fragmentos labirínticos da vida do homem através do olhar de quem se habituou a procurar os sinais dos gestos, do espírito e da representação inevitavelmente subjetiva da multiplicidade e da desordem.»
E, porque se fala em olhar, o que conta verdadeiramente é a sua construção, o olhar vai-se fazendo, faz parte do fotógrafo. O experiencialismo, no estético, formulário e no sentido, molda e esclarece o olhar e a organização de projetos. É isto que aqui vemos, o que o fotógrafo foi fazendo e transmitindo, em forma abstrata ou de grafismos, olhando o mundo ao seu modo, (seja nos tecidos onde o módulo se repete, como em azulejaria, em seriados ou sequências, seja num enquadramento de camisas axadrezadas de homens incautos, confinados pelo enquadramento). Pedro Lobo já nos deu muitas belas imagens. Não o esquece neste conjunto, como também recolhe os momentos estéticos que uma Natureza não estética nos dá. Mas a maioria do que de humano aqui nos surge é indecifrável e enigmático, são vidas alheias que seguem no caminho e que acreditamos entender. Podem ser lembradas em caixilhos datados ou séries de fotografia doméstica, lembrando o movimento crítico contra a fotografia do último quartel do século XX; aqui são ainda testemunhos da memória, coisas subjetivas que alimentam os espaços e as decisões. Do mesmo modo as imagens do desleixo das arrumações, estantes e armários, cabides e outros instantes do olhar sentidamente social. Mas sempre, o olhar subjetivo sobre realidades e seus signos, dos trabalhos e dos dias, do muito que o homem foi fazendo, a catedral gótica, a boneca de plástico e o manequim, a roupa no cabide, a cúpula ou o avião, o caminho empedrado ou aquele bode domesticado, mas rebelde.
[Teresa Siza]
Conceito de Rosely Nakagawa e Pedro S. Lobo.