«Reparei agora que tu, como eu, não pões datas», diz Pomar a Menez (13/11/1979), como se nada nesta correspondência fosse testemunho do tempo e ambos existissem absorvidos no fazer e não-fazer da obra, fazendo girar a própria existência em torno dela.
São cartas pintadas, por vezes. Outras, postais com reproduções de pinturas. São todos manuscritos. Neste pequeno livro reúnem-se cerca de 25 cartas e postais trocados entre Menez e Júlio Pomar, de 1972 a 1982, encontrados nos espólios documentais dos dois artistas e facultados pelas respectivas famílias e herdeiros. O Atelier-Museu Júlio Pomar traz assim a público uma inquietante troca epistolar entre dois artistas, que, além de profundamente amigos, tinham um aguçado sentido crítico sobre o trabalho que produziam e sobre o mundo que os rodeava.
Uma vez que Menez e Júlio Pomar não datavam a correspondência, esta foi organizada, sempre que possível, com base nas datas dos carimbos dos correios, visíveis no topo dos envelopes e dos postais, ou através de indicações feitas pelos próprios acerca de diferentes efemérides.
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A publicação deste material acontece no seguimento da exposição «Imagem em Fuga: Júlio Pomar, Menez e Sónia Almeida», com curadoria de Sara Antónia Matos, no Atelier-Museu Júlio Pomar, que pretendeu pensar o modo como o trabalho de Júlio Pomar se cruza com o trabalho de Menez, com quem manteve uma relação epistolar e artística de grande cumplicidade e admiração, e de uma pintora de uma geração mais nova, Sónia Almeida, para quem o trabalho de Menez foi referência no tempo de faculdade. Em torno da ideia de influência e contaminação em arte, procurou explorar-se o modo como as imagens se transmitem entre artistas, se fixam, simultaneamente, transfigurando-se e fugindo à frente do olhar.
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As cartas entre artistas, e estas em particular, oferecem-se assim como um mapa cartográfico ligado aos afectos e às intensidades vividas pelos artistas, a que de outro modo não se tem acesso.
[Sara Antónia Matos e Pedro Faro]
Com o Atelier-Museu Júlio Pomar.