Os cartoons são opiniões em forma de desenho, críticas rápidas que se podem ver em segundos, mas que têm o poder de mudar o mundo. São atravessados por ironia, pelo mordaz e pelo ridículo, fazem-nos rir ou sentir um desconforto profundo, são leves ou pesados, cúmplices ou incómodos. Tudo se passa a alta velocidade. Em média, os leitores leem um jornal inteiro em dez minutos. Faça as contas.
Os autores destes cem cartoons são comentaristas, como se dizia no início do século XX, retratistas ou cartoonistas, observadores que têm uma malícia fina e um misto de amargura, ironia e optimismo. São cartoonistas que tomam posição, escolhem um lado, expõem um paradoxo, uma hipocrisia, uma fragilidade, uma prepotência. Com rebeldia, liberdade e uma combinação de fora de escala e porta aberta para o irracional e para a nossa infância, fazem a síntese dos nossos dias. É essa a sua força.
Mas a força destes desenhos também está na cumplicidade direta que temos com eles. Sabemos quem é Putin, conhecemos o seu nariz; sabemos quem é Kim Jong-un, conhecemos o seu corpo redondo de pernas curtas; sabemos quem é Khamenei, conhecemos a sua barba. O mesmo para Costa, Rebelo de Sousa, Jerónimo de Sousa. Não são precisas apresentações, introduções, contextualizações. Estes desenhos não nascem sozinhos. Precisam de jornais e de leitores de jornais. Olhar para eles faz parte da experiência de ler um jornal e querer saber o que se passa no mundo.
Este livro é um passeio incómodo. Rimos, de nós e dos outros, mas sobretudo dos outros. E sentimos um mal-estar profundo, por nós e pelos outros. O ano foi assim e este livro só podia ser assim.
[Bárbara Reis]
Com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
Edição bilingue: português | inglês.