Joaquim Oliveira Caetano: «Uma das grandes obras de Bosch é o tríptico das Tentações de Santo Antão do Museu Nacional de Arte Antiga. As três partes compõem uma larga paisagem que unifica várias cenas da vida de Santo Antão, livremente compreendidas a partir da sua biografia escrita por Santo Atanásio: o Santo batido pelos demónios, na aba esquerda, arreliado por estranhas criaturas, no painel central, e tentado pela luxúria e pela gula, na aba direita.»
Sentarmo-nos frente às Tentações de Santo Antão no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa tende a gerar em nós a sensação de nos encontrarmos numa terra desconhecida. Comecemos por perguntar se o estudo dos seus principais temas religiosos pode fazer desaparecer esta impressão.
Quando o tríptico está fechado, vemos os dois painéis exteriores: o da esquerda representa a prisão de Cristo; o da direita, o caminho do calvário, o «porte da cruz». Em ambos, impressiona a maldade dos homens — as suas acções violentas, as suas caras carregadas de cólera e orgulho, nalguns casos de luxúria e gula, imagens exemplares dos pecados mortais. Mesmo não comungando da fé cristã, compreendemos o que significa, para ela, a culpa que a humanidade carrega consigo por ter pecado contra o Cristo e repelido com ingratidão a graça de Deus. Quando o tríptico está aberto, vemos as tentações de Santo Antão em três painéis, e de facto em todos eles o essencial está, afinal, longe de nos ser estranho.
[João Constâncio]
A presente colecção reúne as conferências apresentadas no ciclo «Frente à Obra. Arte e Filosofia», que teve lugar no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 2 e 7 de Maio de 2022, como resultado de uma colaboração entre o Plano Nacional das Artes, o Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Filosofia da Nova e o MNAA. Os oradores foram convidados a escolher uma obra do Museu e a propor uma reflexão filosófica na presença da mesma, antecedida por uma contextualização histórica apresentada por um membro da equipa do Museu. A publicação das conferências vem agora a público, entendendo-se como uma partilha e um testemunho das possibilidades que a relação entre a arte, a história e o pensamento abrem a todos nós.
[Maria João Mayer Branco, Paulo Pires do Vale, Tomás Maia]
Com o IFILNOVA, Plano Nacional das Artes e MNAA.