José Luís Porfírio: «O texto que apresenta o conjunto fala de “notícias de uma era remota ou de um futuro incógnito” […].»
Este livro foi publicado por ocasião da exposição Colosso, realizada na Galeria Brotéria, de Novembro de 2023 a Janeiro de 2024.
«Um, dois, três, aqui está quem te fez», diziam os miúdos no meu tempo, mas agora, e, neste caso, quem fez este COLOSSO?
A boa resposta será: três actores, em três actos e três espaços, espaços esses que, afinal, são o mesmo espaço; a saber, uma sala quadrada que se abre à sua direita, primeiro para outra pequena sala, quadrada de novo, seguida por um corredor e, mais adiante, por um longo espaço que é um trapézio rectângulo. Esse é o lugar da acção, mais curto no primeiro acto que dispensa o corredor, maior nos outros dois, onde o corredor é tão fundamental quanto o resto. Este espaço é o lugar de uma exposição que se pode ler como um palimpsesto, onde vamos desvendando o que estava oculto debaixo da superfície, ou como uma escavação arqueológica, descobrindo sucessivamente três camadas, ou três estratos sobrepostos, num movimento onde há presenças.
[José Luís Porfírio]
Na antecâmara da nossa memória habita a noção de fluidez — quer pela relação com o tempo quer pelos acontecimentos do espaço expositivo: a fluidez sentida na superfície de cera do trabalho de SantoSilva, em alagamento contínuo, nas sombras projectadas do barco em voo de Rui Serra e na água aspergida sobre a bacia escavada em negativo da enorme ossada maternal de Tomás Maia. Sobre a aridez desse elemento terroso dá-se a liquidez onírica de uma mãe inamovível que funciona como vestígio de um corpo deitado e hidratado pela matéria do sonho que é a água. A fluidez é a nossa primeira memória: «água embala-nos. A água adormece-nos. A água devolve-nos a nossa mãe.» [Bachelard] Fomos levados pela fluidez, como por uma clepsidra silenciosa.
[Catarina Ricciardi e João Sarmento sj]
Com a Brotéria.
Fotografia de Pedro Tropa.