Rui Chafes: «Vive num farol, numa áspera ilha feita de rochas e vento, mas disse-me que podia viver em vários lugares, com ou sem luz, e que, por vezes, mudava de sítio sem avisar.»
Ao escutar uma melodia silenciosa confirmo a importância de se estar só. Os desenhos são arquitecturas onde a permanência habita em compulsão secreta, aos assobios. Bolçando, rasgando, soprando, apunhalando, lambendo o vazio. São o mais próximo que conheço dos sonhos: uma projecção invertida com sombras uterinas que não consigo totalmente decifrar. Os olhos estão sempre de fora. A profundidade de um desenho é a sua verdadeira dimensão.
[Sara Bichão]
Ao convocarmos a produção inicial de Sara Bichão pretendemos deliberadamente detectar persistências, ou, para utilizar a moldura do projecto, enraizamentos. Ao fazer conviver, tanto no espaço expositivo como nesta publicação, obras que, em grande medida, não tinham ainda sido mostradas e muito menos confrontadas, desejámos abrir este manancial a novas leituras.
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O material desbravado foi confiado a três autores, Noëlig Le Roux, Joana P.R. Neves e Delfim Sardo, a quem demos carta branca temática. O conjunto de textos resultantes, inéditos, oferece uma pluralidade de pontos de vista, manifestação da intrigante e prolífica produção de Sara Bichão, comprovando a sua inesgotável capacidade de fricção.
Por último, lançou-se o repto a Rui Chafes, um par, com quem se tem desenrolado um entendimento criativo de admiração mútua, para a inclusão de um contributo de sua autoria.
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No epílogo mágico que se inclui no presente livro podemos encontrar, a par e passo, vestígios deixados pelo caminho, como sinapses ou revelações que espelham tanto a profundidade quanto a robustez da obra de Sara Bichão.
Chegados ao fim desta travessia, levantamos voo e diluímo-nos no horizonte.
[Luísa Especial]
Co-edição com AiR351 e Paraguay.
Edição trilingue: inglês-francês-português.