Nuno Faria: «Ao visível o que é do visível, às visões o que pertence às visões. O pintor é como um vidente (um crente), o cego que vê para lá das aparências e o seu percurso é como a trajectória de um carro numa estrada sem fim à vista, na escuridão da noite: uma viagem sem retorno.»
Há, nas pinturas de Victor Costa, um certo mecanismo de combinação, de edição, de repetição e de colagem que não pode deixar de evocar a técnica de cut-up que os surrealistas popularizaram, quer no cinema, quer na poesia, quer na pintura ou desenho. Disjuntiva, é genericamente conhecida como uma técnica narrativa aleatória em que um texto escrito é cortado e reorganizado para criar um novo texto.
A exposição, que este livro documenta, lança um olhar retrospectivo, a um tempo idiossincrático e íntimo, sobre uma obra voraz, generosa, rigorosa, desejante da realidade, que se constitui como uma constelação de geometria imperfeita de arcanos múltiplos e inventa um léxico próprio.
Entre a coerência e a dúvida, o artista escolheu a segunda. O caminho, no percurso artístico de Victor Costa, é sempre em frente, sem olhar para trás, uma procura sem fim, sem limites. É uma obra que abocanha o real — no sentido autofágico do termo, como regeneração celular e visual.
A obra de Victor Costa, usando uma expressão do próprio, nasce do contacto com o visível que reinventa. Imaginemos, enquanto visitantes, que entramos nesta exposição sem mapa, sem folha de sala, como quem entra num quarto escuro. Esqueçamos o (re)conforto da história da arte, os estilos, as genealogias, a bengala da semelhança. Entre a coerência e a dúvida, escolhamos a segunda.
[Nuno Faria]
Esta exposição simboliza um momento de celebração e, sobretudo, de divulgação de uma obra plástica significativa realizada por um artista que merece ser protegido e descoberto em maior profundidade.
[Ivo Martins]
Com o apoio do Centro Cultural Vila Flor.
Edição bilingue: português-inglês.